segunda-feira, 23 de novembro de 2015

por nossa lama e por todo nosso sangue



Tem sido um mês de gosto amargo. De cores de lama e de gotas de sangue. Tem sido um mês de frases inacabadas e gritos contidos. De um certo desespero que nos invade por talvez não termos mais esperança. Não acreditarmos mais e não conseguirmos ver nenhuma saída. Talvez por encararmos nossa maldade e ver o quão longe podemos chegar atrás de nossos próprios interesses. São sonhos soterrados, todo um desequilíbrio ecológico, cadeias desfeitas, cadeias cheias de inocentes, ruas de delinquentes e os pódios e prédios abarrotados de falsos heróis. 
A cada dia que passa estamos mais dementes, mais ausentes...
Não há em quem possamos confiar e estamos cansados das velhas promessas. Os corações feridos, e endurecidos, que valentemente ainda pulsam, não mais conseguem nos confortar por nos fazer perceber que ainda vivemos.
Pouco a pouco nos esvaziaram, encheram de balas os corpos e de ferro o velho rio. Esvaziaram nossos olhos mais um vez, ofuscaram nossa esperança, porque infelizmente insistimos em acreditar que o mundo vale o mundo. Mas não vale. E por acreditarem que vale, permitiram que toda aquela lama,desfizessem malas e almas. Sujando de barro, o sorriso esbranquiçado de um povo simples.
Compararam as pessoas, compararam as dores, compararam a tragédia e esqueceram de perceber que somos nós a maior tragédia, somos os maiores responsáveis por tudo isso. Pelos rios de sangue e pelo rio de lama. Somos responsáveis pelo barro que ofusca nossa visão insistente em permanecer na terra, esquecendo-nos que custará o nosso sangue. Que embora redimidos pelo sangue e por ele lavado, insistimos em, diariamente, nos contaminar com o barro, nos sujar com o barro, nos barrar! Nos"terrear" e pouco a pouco vamos nos soterrando. E nos prendendo a um lugar que não nos pertence.
Tem gosto de água salgada as lágrimas que escorrem, mas que gosto terá a água que corre? Há corações partidos, Marianas desoladas. Há uma Paris, que enfurecida se levantou, para fazer sua justiça, porque ela sabe que nesse mundo de dementes, sempre haverá vidas que valem mais. E que explodir centenas de pessoas não desnobrece sua justa e vaga justiça.
Por fim, espero que meu coração possa ser inundado, não pela lama e  não pelo sangue. Por que de nada nos adiantará estarmos vivos, com corações pulsando sangue, ganhando o mundo se perdermos nossa alma pra toda essa lama.




sábado, 22 de fevereiro de 2014

Há algum tempo que não paro para subir na gávea desta barca para poder ver o horizonte.  Faz tempo que não debruço meu corpo na proa para tocar as frias águas, sentir elas escapar por entre meus dedos. Faz tempo que não paro pra ver o interior, o interior desta barca, o meu interior.
Hoje não há maiores razões para eu estar aqui, sempre que aqui me refugiei, havia no peito palavras que não cabiam mais dentro de mim. Hoje venho aqui, sem esse desespero pra falar, hoje venho até a minha Barca Bela, por saudades, apenas por saudades.
Saudades de navegar nos calmos rios e nas água turbulentas do mar. E de repente, sinto tanta falta da calmaria do alto mar,o ermo e a solidão de todo aquele azul. Senti falta de ter os próprios remos nas minha mãos, do que as inconstantes águas venham a me guiar. O fato de não saber qual direção tomar, me impede de alçar as velas. E essa desorientação,  permite com que eu conheça novas Índias,  porém de fato sem nenhum pretensão de encontrá-las, apenas por esbarrar na ponta de terra que se atreveu a pairar sobre esta superfície azul.
E que venham as novas Índias, pois retomei o leme da minha pequena Barca Bela, que como podem perceber, não há encaro como uma simples barca, mas sim como um forte e imponente navio, guiado pelas fortes e intensas emoções do vento, das águas e principalmente, do coração.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

meu querido João



Quando eu olho eu dentro do seus olhos é como se eu estivesse olhando para o céu mais estrelado que um dia pairou sobre a terra. Que pensamentos você tem? É o que me pergunto a todo instante. Quais boas intensões repousam no seu pensamento?  Eu não tenho o que dizer, eu como se eu estivesse começado a viver outra vez e deixei uma "antiga de mim" me esperando em uma esquina qualquer enquanto contorno esse quarteirão da vida.
Quando eu olho para esse lugar, que um dia me despertou tantas coisas boas, que foi o cenário de toda minha vida, que presenciou nós crescendo, hoje eu não quero mais ir a esse lugar. Não quero mais pertencer  a essa cidadezinha linda, de céu azul, cercada por um mato verdinho e de boa águas. Sinceramente, tudo que mais desejo é acordar toda apavorada na minha cama, eufórica, com o rosto úmido e o coração disparado e ter alguém me olhando com desprezo dizendo " - tava sonhando hein menina ?" "-eu confessaria a ela que se tratava do pior pesadelo da minha vida." Mas iria me sentir bem, iria me sentir incrivelmente bem, pois o pesadelo haveria passado e o melhor, foi apenas "um sonho ruim."
Porque não poderíamos simplesmente ser comuns ? Envelhecermos em cadeiras de balanços, fazendo crochês e compartilhar com os pequenos as desvantagens de se prender às vaidades desse mundo. Mas eu vou tentar, preciso tentar novamente voltar pra casa e colocar as coisas no lugar.
Sei que todos estão se esforçando e oferecendo o melhor de si.
Acreditam e lutam. Talvez nem acreditem, mas eles lutam. E como lutam, como são corajosos, como são fortes, como são valentes, como são inspiradores.
Tudo que eu quero é vê-lo vencer. E sei que vai, certamente prevaleceremos.
Eu não vou desistir, não vou desistir de olhar novamente nos seus olhos e te dizer mais uma vez " eu acredito que você vai sair dessa, sim, eu confio em você meu irmão!"
eu amo você e vocês.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Um Suspiro. Um Suspiro, é tudo o que hoje sou.



Eu venho perdendo um pouco da paciência tão bravamente conquistada, perdendo um pouco da esperança, perdendo um pouco dos velhos sonhos. Tem uma ferida aberta e ela precisa parar de sangrar, precisa ser cicatrizada, precisa se tornar logo um sinal a ser lembrado, a lembrar-me de que eu superei, eu sobrevivi.
Eu venho perdendo um pouco de fôlego e um pouco da resistência, ando perdendo um pouco da imunidade aos velhos lapsos de covardia presenciados.
Ando de fato, um pouco enfraquecida.

Não há meios de se descrever um suspiro, mas ele é tudo o que consigo exprimir agora. Um suspiro. Exatamente isso, um suspiro. De dor ou alívio, de quem sorri e de quem não aguenta mais. De quem ainda espera e de quem de repente, já desistiu. De ansiedade e de muita fadiga. Um suspiro, é exatamente o que sou agora.
E onde encostar os ombros já cansados, que por ora julgado leves, estão bem pesados. E onde me reabastecer ? Pra onde correr? Preciso que seja injetado na minha veia algum tipo de substância  que aqueça meu sangue e dilate minhas pupilas, preciso sentir meu coração bater e me lembrar de que ainda vivo, ainda respiro.
E dói pensar nos dias que se tem transcorridos, perceber quão longo às vezes se demonstram e quão torturantes são a não revelarem para onde nos conduzem. 

 Diante de um esgotamento, saber que ainda há algum espaço, só não saber onde e pra que..pra quem..e por quanto tempo. Eu queria poder anestesiá-los de todas essa dor, fazer esquecerem de todo esse sofrimento. Queria poder ser forte, mais resistente, roubaram minha coragem e me deixaram acreditar que eu era de fato forte.. 
Tenho sonhos, mas não sinto necessidade de revelá-los, nem mesmo à mim. Mas ainda que com a tão óbvia fraqueza, com todo o sobrecarregamento, com todo cansaço, com toda dor, sei que ainda há espaço. Sei que posso, naquele que alimenta, aos meus olhos, a minha pequena força. Mínima força. Quase nada força. Talvez, nenhuma força. Como um fantoche que se preenche com as mãos estranhas,  São Suas mãos, tão familiares, que por todo esse tempo, tem me mantido em pé.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

outro peso qualquer




Embarcar em um belo navio e viver um grande amor, despedir-me jogando lenços sobre o mar e olhar com saudade para aqueles que ficariam parados sobre o inerte pedaço de terra.
Encarar aquele oceano imponente e livre. E talvez, insistir em procurar por algo sobre a superfície, ainda que eu saiba que se há alguma companhia, ela estará no fundo do mar.
Precisaria abrir os braços na proa do navio e sentir aquele vento de alívio e cada parte do meu corpo. Provavelmente estarei de olhos fechados querendo ignorar tudo ao meu redor, pretendo apenas, desfrutar daquele silêncio que tentava invadir meu corpo.
E se no final eu naufragasse naquele oceano gelado,  ao menos teria uma sensação real, saberia que a água era gelada e essa era razão do meu frio. E talvez, não seria tão ruim assim um pouco de solidão. Seria um oceano, ainda que frio e escuro, mas não seria ruim tê-lo só pra mim.
E depois procurariam por mim no fundo dele, por algum sinal, talvez por algum corpo revestido de lodo e enfeitado por algas e se me encontrassem, me perguntariam : - Por onde tens andado ?
e eu os levaria até a superfície e diria: é aqui em cima que as pessoas costumam andar.
E saíria da água salgada, caminharia, carregando apenas o peso das roupas molhadas e nada mais. Nenhum outro peso qualquer.



sexta-feira, 21 de setembro de 2012




Eu adormeço fazendo promessas mas quando o sol vem, eu não cumpro-as. Eu nem sequer tento cumpri-las, eu perco muito o meu tempo, estou quase sempre sentindo saudades e arrumando desculpas para minha falta de responsabilidade.
Sei que haverá um dia, em que irá sim, fugir do  meu controle, haverá um dia ao menos, em que eu não conseguirei fazer com que dê certo. Estou cansada, eu acho. Talvez com medo de que nada disso venha a valer a pena, de que o mundo é injusto e eu nada posso fazer quanto a isso. Ainda que eu lute e persista, nesses dias nublados, a sensação que eu tenho é de que nada, nada dará certo!
Eu não gosto sentir isso. Desejaria acordar com mais força e disposição. Encarar todos os leões e ir dormir com um sorriso no rosto, ou apenas, ir dormir. Dói perceber que minha comoda rotina nunca mais irá fazer parte de mim. Trocaram os móveis de lugar, nada está onde deveria estar. Não há mais um momento em que preparamos o almoço junto, ou que vou acordar e tentar arrumar algo pra divertir. Não há mais brigas por causa de roupa e nem horário pra chegar em casa. Não tenho mais que dividir meu guarda-roupa e nem uma escola pra irmos juntas de manhã.
Não há mais como almoçarmos e dormimos um pouco. Acordar à tarde pra arrumar a casa.
Quem é que trocou tudo isso de lugar ??
Onde foi parar nossa coragem, os sonhos que sonhamos tão cheios de garras ?
É como se não houvesse uma casa pra voltar, bagunçaram toda a minha vida e nem se quer me avisaram..Estão todos longe, um em cada lugar..e qual razão disso tudo ? Qual o sentido em vivermos separados?  Onde é que nossas escolhas nos levaram ?
Confesso que hoje estou perdida, sufocada por obrigações e por dúvidas, submergida por este medo constante de perder quem eu amo e de nada dar certo.  Que hoje me percebo um pouco fraca e indisposta. Desejando estar em qualquer outro lugar, menos aqui. Desejando ficar sozinha e não me lembrar de ninguém. Hoje, eu amanheci um pouco covarde.
Eu preciso me esvaziar um pouco, tomar um banho gelado em um dia frio e despertar.
Porque esse mundo de adulto está a me aguardando e ainda que hoje eu não consiga ver, quando o sol voltar, talvez eu perceba que valeu a pena.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012



Como você iria fazer se precisasse gritar mas a voz escapasse, se seus lábios estivessem envolto por fitas que impediriam que eles se movessem, ou se estivessem engolindo muita água, e precisasse apenas dizer algumas palavras.  Como reagiria se suas mãos estivessem atadas por um forte barbante e seus pés algemados e precisasse passar por sobre sensíveis cascas de ovos, prontas a se tornarem pó por não suportarem seu peso. O que você faria se não soubesse o que fazer?
Eu tenho tentado demonstrar que quero estar presente, tentando oferecer uma força que, muito embora, as vezes eu não possuo. Eu tenho tentado, eu juro que tenho tentado.
Tenho lidado com mundo cimentado e de difícil acesso. Eu estou esmurrando esses fortes muros de cimento e embora com os lábios presos, já sem voz, com as mão atadas e os pés sem poderem se mover, tentado demonstrar que eu estou aqui e preciso entrar, que aqui fora é frio e que na verdade, eu vim pelo que há dentro do muro.
Há um lindo futuro na outra extremidade e que de repente espera por nós, um futuro que aguarda por nossa coragem e persistência para que venhamos a chegar até ele.  E estou aqui, com você e embora eu ainda não saiba, a maneira certa talvez, de demonstrar isso, eu estou aqui por você.
Não vou deixar minha lágrimas escorrerem, eu tenho me permitido ser forte, acredito até que estou forte. Mas agora, por favor, deixa apenas eu tentar te fortalecer.